terça-feira, outubro 17, 2006

Valorizar é Preciso

Todo dia eu fico pensando em “o que mais escrever sobre valorização?” o assunto é rico, mas escrever sobre teoria é um saco! Fico buscando fatos cotidianos, episódios valorizatórios que exemplifiquem o que falo, mas agora, temporariamente afastado do mundo corporativo, ficou mais difícil.

Na verdade, esse revés temporário pelo qual estou passando serviu para mostrar-me uma coisa, procurar emprego é uma forma de valorização que eu desconhecia. Vejam só o tal do curriculum vitae (CV), nada mais é que um documento de auto-valorização. Se o sujeito escreve um CV que diga algo menos de que o “Eu sou foda, mas sou humilde”, merece a morte.

Vamos entender o conceito básico do curriculum vitae. É quase um documento de apresentação de produto, daqueles que você manda para o cliente logo depois do cold-call com o objetivo de conseguir a primeira reunião. Só que nesse caso, infelizmente, você provavelmente não sabe quem são seus concorrentes para fazer um benchmark. O benchmark é util no direcionamento da apresentação, você deve destacar seus pontos fortes sobre as deficiências do concorrente, ou os pontos em que você é melhor do que ele(s). Mas isso é assunto para outro post!

O importante é fazer o olho do cliente brilhar e conseguir aquela reunião de apresentação.

Agora é a hora daquelas infinitas ligações para seus contatos no mercado informando que você está disponível e perguntando-lhes se pode contar com a indicação e referência deles. Nas entrelinhas o que você está dizendo é: "Se souber de alguma coisa, coloca meu nome na roda, OK?".

Se você é um cara atento, não vai ligar para um sujeito que nitidamente não vai com a sua cara e pedir o apoio dele, certo?!. Se ele for educado, vai dizer que sim e não vai fazer nada, mas se ele estiver de mau humor, você corre o risco de ouvir o que não quer! Mas legal mesmo é quando você liga pra alguém e ouve aquela frase assim:

Nossa!!! Você saiu daquela empresa? Eu achei que você fosse parte integrante dela. Já tem destino certo? Poxa, uma pena que eu não tenho head count na minha equipe, senão trazia você pra cá hoje mesmo, mas assim que abrir uma vaga, te trago!

A busca por novo emprego é um troca-troca de valorizações que não tem fim. É na verdade um excelente momento para observações e posts.

Vamos voltar ao tal do curriculum vitae, ou por que não, seu flyer! De uma forma geral, o CV traz informações como:

  • O que já te mandaram fazer (suas metas)
  • O que você já fez (suas realizações)
  • O que você sabe fazer (seus conhecimentos)
  • O que você pretende fazer (seus objetivos profissionais)

Se no seu CV não tem um dos itens acima, já está atravessando o samba.

O importante no CV é ser um artigo valorizador suave, não é pra sair por aí escrevendo: “Eu sou tão foda que quando me dão uma meta, eu a aumento em 50% porque eu sei que vou atingir!”.
Pode até ser verdade, mas dito por você passa a ser valorização barata! Em lugar disso, coloque um textinho assim: “Busco superar as metas que me são apresentadas, visando o sucesso do negócio.”. Sentiu a valorizada suave?! Olhos não treinados podem não percebê-la e é isso que nós queremos!

Eu gostaria de ver um sujeito em busca de emprego, chegar à entrevista e sacar um notebook com um PPT sobre sua vida profissional e suas realizações. No mundo das artes (design gráfico, web design, animação, etc.), apresentar os trabalhos que já realizou, é muito comum, mas para o universo gerencial, seria inovador! Imagina só o camarada mostrando um PPT cheio de gráficos de resultados na entrevista de emprego. Seria o máximo!

Não me lembro de ter ouvido histórias a respeito de um candidato que surpreendesse o entrevistador dessa forma.

É fato que o candidato estaria seguindo a risca o processo clássico de venda de produto, no caso, ele próprio. Ou será tão incomum um vendedor chegar com uma apresentação pronta e bem ensaiada do produto que está vendendo?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um exemplo a ser seguido

Os amigos que me conhecem mais proximamente (e aqueles que apenas são observadores) sabem que eu tenho carinho pela cultura japonesa, mais especificamente pela cultura Samurai que, na idade média, dava o tom da cultura japonesa de uma forma geral. Desde o início do ano eu decidi me dedicar um pouco mais a estudar e conhecer essa cultura, saindo dos filmes e documentários do Discovery e do National Geographic.

Comprei dois livros para começar O Código Samurai (Boyé Lafayette) e Bushido – O Código do Samurai (Faidiji Yuzan). O primeiro tem uma visão mais direcionada para a aplicação do código a administração de empresas e o outro é mais purista. Jabá a parte, o lance que eu achei interessante do código é que, imerso em uma postura correta, justa e honesta, há uma busca pela perfeição em cada detalhe. Legal observar que os conceitos do Bushido foram tão bem enraizados na cultura japonesa que permanecem vivos até hoje.

Um dos grandes homens de negócios japonês (banqueiro) diz: “Eles (os homens de negócios japoneses) agem com conhecimento, assumem responsabilidade pessoal, comunicam-se clara e honestamente, valorizam sua honra, agem com justiça e trabalham com energia ilimitada.” Quiséramos nós, ocidentais termos essa mentalidade!

A vida do Samurai se resumia a:

  • Acalentar o ken (visão) e o kan (conhecimento) para captar a realidade e ser capaz de ler as intenções do oponente, incluindo o meno movimento ou até nenhum movimento.
  • Superar o meu eu de ontem.

O único senão que eu faço a cultura samurai é a questão do kata, o apego deles a forma e não ao resultado. Entretanto, isso explica facilmente por que o povo japonês é tão aficionado a questão de qualidade por meio de processos e sua correta execução. O processo nada mais é do que o kata para realizar uma atividade profissional, da mesma forma que há o kata para a cerimônia do chá (alias é lindo de assistir, eu recomendo!).

Continuando, imagine que, para o executivo japonês, interesses pessoais inexistem. Tudo que ele faz é pensando no bem geral da empresa. Nossos pensadores e estudiosos em artes da negociação vivem de nos mostrar formas de chegar a um BATNA, para os japoneses, isso é padrão e não agir assim é como cometer um pecado mortal.

Por que eu resolvi escrever sobre o Bushido e a cultura japonesa pode não parecer tão simples assim, mas faz sentido. Vejam só (última citação) algumas das expressões mais utilizadas no vocabulário japonês:

  • Ganbarimasu: “Eu persistirei; nunca desistirei”;
  • Ganbarimasho: “Vamos persistir; na vamos nunca desistir”;
  • Ganbatte:“Segure-se, não desista”.

Sabendo dessas 3 expressões idiomáticas, e, se quiser pegue para ler a história de uma das maiores empresas japonesas (e do mundo) a Sony. Eu até tinha um PDF com o resumo da história, mas não achei, SFA!

Tudo roda em torno dessas expressões, é incrível! Não há (eu pelo menos não achei) referências valorizatórias na história do Japão. Seja para fugir do trabalho, seja para motivar o trabalho da equipe. O japonês não precisa de auto-afirmação, ele trabalha e faz o que tem que fazer e se não for repreendido, fica satisfeito. Se for repreendido, Ganbarimasu!

Imaginem se essa cultura chega ao mundo ocidental, se deixarmos de ter ao nosso lado pessoas vendendo dificuldade para coisas simples. Ou pessoas falando baboseiras com o objetivo de motivar. Pode até ser que eu ficasse sem assunto pra escrever aqui no Blog, mas e daí?

Ah sim, os japoneses trabalham muito, cerca de 14 horas por dia, de 2ª a 6ª. Trabalhar no final de semana, para eles, penaliza a família, que é uma dos principais compromissos postos pelo Bushido.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Bizarra Valorização

Engraçado como até nas situações mais bizarras o sujeito valoriza. Estava observando uma entrevista demissional (é assim que escreve? Não sei!) e vendo como as duas partes (demitido e demitente – existe isso? O word aceitou!) se comportam.

Vamos olhar o lado do coitado cujo emprego está sendo eliminado, ele foi chamado para uma reunião cujo conteúdo é obscuro, ou você já viu algum gerente ou diretor chamar um subalterno para ser demitido e dizer assim:

  • Ei Fulano, chega aqui na sala que eu quero te demitir?

Nunca né? No máximo um chamado do tipo:

  • Ei Fulano, chega aqui na sala que eu quero bater um papo com você.

Pois é, o sujeito vai pra reunião como o boi vai pro abate, jurando de pés juntos que está indo para o pasto.

Quando chega na sala, o chefe já começa com aquele papo de “cerca Lourenço” (alias, de onde vem essa expressão?!):

Veja bem, gostamos muito do seu trabalho, você sempre se comprometeu com as tarefas, faz mergulho profundo nas questões que lhe são delegadas, tem capricho na apresentação de materiais. Mas (pronto, aqui o cara já sabe que vem merda e merda grossa!) a situação da empresa não é boa. E nos últimos tempos você tem deixado a desejar.

Na verdade, eu estou sendo pressionado pela diretoria a cortar custos da equipe e terei que abrir mão do seu talento na nossa equipe. (existe coisa mais valorizatória do que isso? Tenho que abrir mão do seu talento... PQP, Troféu Joinha!) Acredito que será mais vantajoso para você se seguir seu caminho e buscar novas oportunidades no mercado. (quem é o sujeito pra julgar o que é melhor ou não para o cara? Ganhou a rodada! E não pára por aí, não!)

Queria te pedir apenas para nos ajudar até o fim do mês e encerrar algumas ações que estão sob sua responsabilidade, como por exemplo, fechar aquela venda que você vem trabalhando nos últimos meses e ajudar o Ciclano a lançar aquela campanha promocional. Tudo bem? (tá tudo ótimo, o cara acabou de ser demitido, por que ele estaria mal?).

Eu sei que é difícil que o primeiro impacto é grande, mas você vai ver que vai ser melhor pra você. Recomendo que você busque trabalhar nessa ou naquela área, pois essa experiência vai te agregar muito e é onde você precisa crescer profissionalmente (então por que você não avisou o cara antes de demiti-lo?).

Imagine só a cara de taxo do demitido. Impagável, vale a pena filmar uma reunião dessas para depois rir da cara do sujeito. Quando o chefe percebe que o sujeito está totalmente sem chão, ele manda aquela clássica:

Foi muito difícil ter que te deixar ir. Conversei com várias pessoas antes e todas concordaram comigo que é o melhor para todos. Vamos te ajudar em tudo que pudermos para você se recolocar, bons profissionais não podem ficar fora do mercado! (precisa dizer alguma coisa sobre essa frase?)

Demitidos que me lêem, ao final dessa reunião, peçam aos seus chefes (os demitidores) que enumerem os pontos em que você deve melhorar. Isso vai te servir para:

  1. Ajudar a crescer, se tal lista realmente existir.
  2. Mostrar que toda a valorização da conversa foi papo furado.

domingo, outubro 01, 2006

Hoje é Dia de Eleição

Rapaz veja só,hoje é dia de eleição, dia de escolher presidente da nossa nação (que merda de rima idhiota!). Fui lá na sessão eleitoreira votar nos meu candidatos e fiquei na fila pensando em algumas coisas relacionadas a eleição - tenho sido uma cara muito reflexivo desde que lancei esse blog, será que isso é bom?

Estou eu lá, muito feliz esperando a minha vez de ir a urna ouvir aqueles pi-pi, pi-ri-ri-ri maravilhosos quando me ocorre um lampejo de inteligência (já no dia 1o do mês, incrivel!), perceba comigo:

O que eu estava fazendo lá naquele lugar cercado por pessoas desconhecidas que pretendiam fazer a mesma coisa que eu? Pois é, fui lá para votar no(s) candidato(s) que me apresentou projetos e programas condizentes (no meu enteder) com as necessidades do povo brasileiro, certo?

Errado! Eu estava lá para valorizar o(s) político(s) que melhor desempenhou seu papel de me convencer de coisas que eu sei (em sã consciência) que são mentiras:

  • O programa de governo proposto pretende melhorar a vida da população carente/pobre/fodida
  • O cadidato se preocupa com a segurança do povo
  • O candidato quer acabar com a miséria
  • O candidato pretende distribuir a renda - se quiser me dar um pouco, tô aceitando!

Ah, sim, e claro:

  • O candidato é HONESTO

Então, constatamos que votar é um ato valorizatório (começo a me questionar se respirar também é valorizar, será?!)

Surge, então, a pergunta, será que se candidatar também é valorizar? A vertente política (não politizada) da minha família que me perdoe, mas eu acho que é sim, saca só:

Pra comçar o sujeito que quer vida fácil pelos próximos 4 anos precisa ser aprovado pelo partido dele, ou seja, ele precisa passar alguns anos aparecendo na mídia. Para isso ele tem que:

  • apertar a mão maneta,
  • abraçar leproso,
  • tirar prostitura da rua (de preferência não levar pra casa, porque aí o tiro pode sair pela culatra),
  • ir pra porta de penitenciária com rebelião acalentar esposa de presidiário
  • sempre que possível (sendo da oposição) dar uma entrevista atacando qualquer coisa de errado que o governante atual tenha feito errado ou deixado de fazer

Fazendo isso por alguns anos (pelo menos os 2 que antecedem a eleição) sua candidatura está garantida. Se, por acaso o partido optar por outro candidado, não adianta fazer greve de fome, vai que o pessoal resolve achar boa idéia e deixa você morrer! (pena que salvaram o último que fez isso...)

Agora que o sujeito já é candidato, ele precisa criar coisas importante para a candidatura:

  • Conta fantasma para "doações" de campanha
  • Plano de governo, não que ele vá ser usado, mas tem que ter algum
  • Equipe de campanha (1 marketeiro, 1 redator pra escrever os discursos, 1 assessor de imprensa, 1 secretaria peituda e 1 monte de pobre fodido pra distribuir panfelto, segurar cataz na rua e lotar comíssio)
  • Massagista, de preferência uma que faça barba, cabelo e biogode (pode ser até aquela que ele tirou da rua na pré candidatura)

Pronto, com tudo montado, o candidato deve começar sua campanha.

Fazer campanha é um negócio divertido, o sujeito roda o Brasil todo fazendo festa pros outros e dizendo pra cada aquelas frases ridículas: "Conto com você para mudarmos esse país!", "Seu voto vai fazer a diferença, nos vemos no dia da eleição", etc.

Sempre rola aqueles eventos pro povão conhecer o candidato, e pro candidato ficar lá dizendo como a esposa (que nao tem dente) do Zé pedreiro é linda, como o filho com a barriga cheia de verme deveria ser jogador de futebol e a filha deveria ser top model. Por aí vai..

O sujeito vai pro debate na TV e apresenta o plano de governo (só serve pra isso mesmo), reforça suas realizações pessoais (é sempre pessoal, o cara faz tudo sozinho, sempre!) as pessoas que ele ajudou e tudo mais. Ah sim, tem que tentar falar na 1a pessoa do plural, pra dar idéia de equipe, mas de vez em quando, esquece o plural e usa o singular. Essa jogada do "esqueci o plural" serve para marcar que mesmo com uma equipe, o cara era o líder responsável pela execução da tarefa (incrivel como coisas simples surtem efeito). Será que isso é PNL?

Viu só, politica também é feita a base de valorização. Tá certo que é o mesmo caso dos Lordes Sith, é a força sendo usada para os fins errados, mas ainda é a força!